domingo, 23 de novembro de 2008

Módulo n.º 6 - A Interdependência das economias actuais

ECONOMIA – 11.º STJ
Módulo n.º 6 - A Interdependência das economias actuais
 A necessidade e a diversidade de relações internacionais
A designação made in é nossa conhecida e aparece em muitos dos bens que utilizamos no nosso dia-a-dia, como as calças de ganga, as sapatilhas ou os bens alimentares e em muitos outros. Todos utilizamos, diariamente, bens produzidos nos mais variados países. Tomemos o caso dos bens dos serviços utilizados ao longo de um dia por um estudante de Economia. Depois de acordar, o nosso amigo toma um sumo de laranja feito de laranja espanhola, come o seu pão com doce de maçãs cultivadas em Portugal e toma um café da Colômbia. Ao longo do pequeno-almoço, assiste no televisor, made in Japão, ao documentário produzido no Reino Unido. Veste roupa de algodão cultivado no Brasil e confeccionada na Tailândia. Na escola utiliza livros escritos originalmente por autores dos EUA, mas traduzidos para português. A meio da manhã telefona a uma amiga utilizando um telemóvel fabricado na Finlândia.
Os exemplos anteriores colocam em evidência a interdependência das pessoas e das economias e, em simultâneo, a necessidade do comércio entre o nosso país e outros países, isto é, o comércio externo.
“Comércio e troca”
“Para as pessoas que possuem objectos diferentes e têm desejos diversos, existe uma oportunidade de comércio que beneficia as partes envolvidas na troca. As crianças aprendem os princípios básicos da troca. Uma tem dois cromos de Zico, a outra tem dois de Maradona. A troca será benéfica para as duas. O mesmo se aplica aos países. A Nigéria tem mais petróleo do que precisa, mas não produz comida suficiente para alimentar uma população. Os Estados Unidos produzem mais trigo do que os americanos consomem, mas precisam de petróleo. O comércio pode beneficiar os dois países.
No comércio voluntário só encontramos vencedores. Se o comércio provocasse perdas para uma das partes, esta preferiria não fazer trocas. Portanto, uma consequência fundamental da troca voluntária é que beneficia todos os envolvidos.” Joseph, E., E. Walsh. Introdução à Macroeconomia (adaptado).
“Comércio interno e externo”
O comércio externo designa todas as transacções (compras e vendas) de bens e serviços de um país para outros, isto é, realiza-se entre unidades residentes e não residentes no país.
O comércio externo efectua-se entre países, enquanto o comércio interno, tem lugar dentro de um país envolvendo só agentes económicos residentes nesse país.
O comércio externo não envolve só a compra e a venda de bens e de serviços entre unidades residentes no país e não residentes. Existem, também, movimentos de capitais entre países. Os empréstimos, os investimentos directos e em carteira são exemplos de movimentos de capitais. Hoje, indivíduos residentes em Portugal podem ser proprietários de acções de empresas não financeiras nos EUA ou na Alemanha. A abertura dos mercados financeiros e a eliminação progressiva das restrições à circulação dos activos financeiros dotou o factor capital de maior mobilidade.
Ficha de Actividades:
a) Explique, de que forma o comércio externo contribui para a especialização produtiva;
b) Estabeleça as diferenças entre comércio externo e comércio interno
“Divisão internacional do trabalho”
Os países, tal como as pessoas, apresentam características próprias, uma determinada localização geográfica, um clima, um conjunto de recursos naturais e uma população. Estes aspectos, conjugados entre si, propiciam níveis de produção mais elevados para certos bens e/ou para a prestação de certos serviços. Assim como facilitam a produção de certos bens, impedem ou dificultam a produção de outros, o que conduz à produção em grandes quantidades de um bem e à escassez de outros.
Os países especializam-se na produção de alguns bens, conseguindo produzi-los a preços mais baixos em termos absolutos ou relativos do que outros países. O que acontece com os países, verifica-se com as regiões de um país e com um de nós, obrigando à compra e à venda dos mais variados bens e serviços a fim de garantir a continuidade dos processos produtivos e perpetuar a sobrevivência das sociedades. Este processo de especialização produtiva é baseado numa divisão internacional do trabalho – consiste em cada país especializar-se na produção de alguns bens e/ou prestação de alguns serviços e obter os outros no mercado externo.
Por exemplo, não é possível em Portugal continental fazer plantações de abacaxi, pois o clima inviabiliza o seu cultivo. Poderia colocar-se a questão da sua produção em estufas, mas será que esta corresponde à melhor aplicação a dar a esse solo? Será que conseguiríamos cultivar abacaxis a preços idênticos aos praticados por outros países com clima tropical?
Para responder a esta questão temos de compreender a necessidade das relações do comércio internacional e os benefícios que daí resultam. O comércio externo existe porque:
 A produção dos diferentes bens e serviços exige diferentes recursos – os quais não existem em todos os países, inviabilizando a sua obtenção. Os recursos estão distribuídos de forma residual pelos países, condicionando o tipo de bens a produzir;
 Os vários recursos estão distribuídos pelo mundo de forma desigual – o petróleo não existe em Portugal, mas o mesmo já não acontece no Iraque ou na Arábia Saudita;
 Mobilidade/deslocação dos factores de produção é reduzida - a mobilidade/deslocação dos factores de produção é bastante diferente entre si; se é possível, em certos casos, falar-se da mobilidade da mão-de-obra, o mesmo não acontece com as características do solo e com as riquezas do subsolo. A impossibilidade de deslocar o factor recursos naturais de uma região para outra limita a capacidade de produção de certos bens ou de prestação de certos serviços em determinadas zonas do planeta.
Vantagens comparativas
Sabe-se que o comércio externo provoca a melhoria do bem-estar das sociedades. É necessário, no entanto, compreender em que consiste essa melhoria. Para o efeito considere-se dois países, Portugal e França:
• Cada um produz o mesmo bem, tractores;
• Os dois países utilizam a mesma moeda – o euro;
• O mercado de tractores nos dois países é representado pelas curvas da procura e da oferta;
• O preço do tractor no mercado externo é estabelecido entre os dois países, garantindo o equilíbrio geral do mercado para um preço de 15 000 euros.
Consultar o anexo sobre o gráfico (Exercício).
Da sua observação verifica-se: o preço de equilíbrio em Portugal é inferior ao preço de equilíbrio em França. Tal facto possibilita ao nosso país exportar para França 100 tractores ao preço de 15 000 euros, valor inferior ao estipulado pelo preço de equilíbrio em França, 20 000 euros por tractor.
O preço no mercado mundial assegura o equilíbrio global para os 15 000 euros. Para este preço, a quantidade exportada por Portugal, 100 000 tractores, é igual à quantidade importada pela França.
A existência de comércio externo possibilita ganhos a ambos os países. O ganho para Portugal resulta do aumento da produção, através da venda no mercado externo de 1oo tractores, a um preço superior ao obtido internamente (15 000 euros em vez de 10 000 euros por tractor internamente). Afinal, Portugal vendeu mais do que a procura interna, isto é, passou de 100 para 200 tractores anuais (100 tractores no mercado interno e mais 100 tractores no mercado externo).
A França pode comprar uma maior quantidade do bem a um preço mais baixo do que alcançaria no ponto de equilíbrio, isto é, passou de 200 para 300 tractores a um preço de 15 000 euros.
A partir do exemplo anterior é possível verificar que o comércio externo proporciona ganhos aos países intervenientes, mas um dos países surge como exportador e outro como importador. Neste último caso, consideramos que o nosso país apresenta uma vantagem absoluta, isto é, a conjugação dos factores recursos naturais, capital e trabalho permitem a Portugal produzir cada tractor a um preço inferior ao produtor francês.
Vantagem absoluta: diz-se que um país é possuidor de uma vantagem absoluta na produção de um bem, quando a sua produtividade é maior e é menor o custo de produção.
Vantagem comparativa
Exemplo: Portugal e o Reino Unido produzem ambos batatas e tecidos. O custo de produção dos bens em cada um dos países é representado apenas pelo número de horas de trabalho, tal como segue na tabela:
Portugal Reino Unido
1 Kg de batata 60 80
1 metro de tecido 70 90
Verifica-se que a produção quer de batata quer de tecido é mais barata em Portugal do que no Reino Unido; Portugal apresenta vantagens absolutas na produção dos dois bens. Ao calcular o preço relativo da batata em Portugal e no Reino Unido, comparativamente com o tecido, obtemos:
Em Portugal:
Custo da batata/Custo do tecido = 60/70 = 0.86
Custo do tecido/Custo da batata = 70/60 = 1,17
No Reino Unido:
Custo da batata/Custo do tecido = 80/110 = 0.73
Custo do tecido/Custo da batata = 110/80 = 1,38
Em Portugal, a produção de 1 Kg de batata apresenta um custo correspondente a 0,86 do custo de produção de 1 m. de tecido, enquanto a produção de 1 m. de tecido tem um custo de 1,17 vezes superior ao custo do Kg. de batata.
Fazendo o mesmo raciocínio para o Reino Unido, verifica-se que a produção de batata é relativamente mais barata do que a produção de tecido, pois o preço relativo é menor.
Comparando os preços relativos dos dois países, verifica-se que:
 A produção de batata é relativamente mais barata no Reino Unido (o preço relativo ao Reino Unido é de 0,73 e em Portugal de 0,86);
 A produção de tecido e relativamente mais barata em Portugal (o preço relativo português é de 1,17 e no Reino Unido de 1,38).
Portugal deve especializar-se na produção de tecido, exportando para o Reino Unido, e importará batata deste país, devendo, portanto, o Reino Unido especializar-se na produção de batata. Os dois países devem especializar-se de acordo com as vantagens comparativas – diz-se que um país apresenta uma vantagem comparativa na produção de um bem, se o produz com um custo relativo mais baixo do que outro país.
Neste caso a decisão é tomada, não a partir das vantagens absolutas, mas das vantagens relativas. Cada país deve especializar-se na produção para a qual o preço relativo seja inferior ao outro país.
Ficha de actividades:
1 - “Duas amigas, uma moradora em Roma e outra em Atenas, encontraram-se certo dia e decidiram passar a comparar uma à outra. A residente em Roma consegue apanhar 10 dúzias de rosas na sua estufa num dia ou colher 8 Kg de brócolos, enquanto a residente em Atenas consegue apanhar 7 dúzias de rosas ou colher 5 Kg de brócolos num dia
a) Identifique, apresentando os respectivos cálculos, qual das duas amigas apresentava vantagem relativa na apanha das rosas;
b) Indique qual das duas amigas apresenta vantagem absoluta na colheita de brócolos. Justifique.
2 – “Michael Jordan e o jardim”
“Michael Jordan é um grande atleta, um dos melhores jogadores da NBA: pode saltar mais alto e lançar a bola melhor do que a maioria das pessoas. Certamente, também é melhor em outras actividades, provavelmente corta mais depressa a relva do seu jardim. Mas só porque corta mais rápido a relva deverá fazê-lo?
Digamos que Jordan pode aparar a relva do seu jardim em 2 horas. Nessas duas horas poerá participar na gravação de um comercial de ténis para a televisão e ganhar 10 000 dólares. Por outro lado, a sua vizinha, Jennifer, poderá cortar a relva em 4 horas. Nessas mesmas 4 horas ela poderia trabalhar no McDonald’s e ganhar 20 dólares. Jordam tem uma vantagem absoluta no corte da relva porque pode fazer esse trabalho em menos tempo. Contudo, Jennifer tem uma vantagem comparativa na mesma actividade porque tem um custo de oportunidade mais baixo.
Os ganhos de comércio neste caso são espectaculares. Em lugar de aparar a relva do seu jardim, Jordan deve actuar no comercia e contratar Jennifer para cortar a relva. Enquanto ele lhe pagar mais de 20 dólares e menos de 10 mil dólares, ambos terão vantagem”. – Mankiw, N. Gregory (adaptado)
Diga, se Michael Jordan deve optar por cortar a relva do seu jardim. Justifique.

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